sexta-feira, 15 de novembro de 2013

No rescaldo de ontem...

Em noite de Tertúlia Mais Pequena do Mundo, um grupo de amantes da cavaqueira reuniu-se no Quiosque Al'Mutamid e dissertou sobre variadíssimos temas e textos, entre eles: 

- Paula Torres trouxe para cima da mesa os resultados do estudo "Acesso à Cultura e Participação", feito pela Directoria-Geral para a Comunicação da União Europeia em 2013, que pretendeu perceber, num espaço de 12 meses, qual o grau de adesão e as motivações (elencam-se quatro: falta de interesse, de tempo, de dinheiro ou de quantidade/diversidade de oferta existente) dos cidadãos de diferentes países europeus relativamente à oferta cultural nas suas variadas expressões. 

O relatório completo deste importante estudo pode ser consultado e descarregado aqui, bem como um sumário, disponível aqui, além de um resumo visual relativo a Portugal, patente aqui

Os valores apresentados para o caso português são verdadeiramente preocupantes, daí que o debate se tenha centrado sobretudo na análise informal de dois dados: a distribuição de público português que não assistiu a nada em áreas culturais específicas (92% no Ballet, Dança e Ópera; 87% no Teatro; 85% nas Bibliotecas; 83% nos Museus e Galerias; 81% nos concertos musicais; 73% nos monumentos históricos; 71% no Cinema; e 60% na leitura de um livro); e a principal motivação identificada pelo estudo para isso, que foi a da falta de interesse, muito à frente das três acima apontadas. 

Falou-se da relação destes resultados com os níveis de formação e educação do público português (sendo que foi essa a carência mais apontada, chamando-se a atenção para os actuais modelos, políticas e estruturas educativos, que têm vindo, por razões várias, a divorciar-se gradualmente, em termos oficiais (exceptuando-se alguns docentes mais entusiastas que continuam a "remar contra a maré") , da construção de pontes entre a escola e o exterior, mormente com o mundo das artes e da cultura em geral), bem como com factores psicológicos, relativos à personalidade individual (disponibilidade mental, curiosidade, ambição de conhecimento), como ainda com a importância de haver mediadores que estabeleçam eficaz e atractivamente (isto é: falar de coisas complexas e técnicas de uma forma simples + falar de modo contagiante + falar com efectivo conhecimento de causa das matérias) a intermediação entre o grande público e os vários estratos do universo cultural. 


- Sónia Pereira chamou a atenção para a divulgação que a Secretaria de Estado da Cultura fez recentemente da intenção de elaborar um conjunto de dez estudos sobre a área da Cultura em Portugal, visando a candidatura de projectos aos Fundos Estruturais do Quadro Estratégico Europeu (2014-2020). A propósito deste anúncio, falou-se da tentação/propensão frequente do poder político para fazer tábua rasa do trabalho feito anteriormente à sua chegada ao Poder, bem como da forma como os fundos em causa vão beneficiar os agentes culturais portugueses, dado que muitos deles (a maioria), não dotados de estruturas e lobbies fortes em termos de influência, podem não conseguir aceder a estes apoios. Aqui pôs-se também a questão do apoio administrativo e burocrático, necessariamente informado e especializado em candidaturas a fundos, que, por exemplo, os municípios, as direcções regionais e outros organismos públicos podem dar aos actores da cena cultural local/regional. 


- Houve ainda várias leituras de textos literários: 
. Maria Fernanda Marcelino evocou, de forma sentida, o grande pedagogo Rómulo de Carvalho, de pseudónimo "António Gedeão", e o seu emblemático "Poema para Galileo"; 
. Esmeralda Lopes revisitou os lugares da memória e os desafios da escrita autobiográfica, lendo excertos de um trabalho apaixonante que fez em tempos no âmbito profissional, questionando filosoficamente o que faz parte das nossas lembranças e como as moldamos e reinventamos ao longo do tempo; 
. António Guerreiro leu entusiasticamente três poemas seus datados de 2009, bem como uma composição sua cruzando poema, fotografia e texto em prosa; 
. José Paulo voltou a reflectir sobre o(s) mundo(s) da Palavra apresentando um poema seu intitulado "A palavra do pensamento";
. No seu tom sereno e cuidado, a voz de Ana Paula Baptista trouxe-nos Antero Quental e o inquietante poema "Divina Comédia";
. Seguindo a tendência/registo a que nos tem habituado, António Baeta trouxe dois textos de microficção ("A Privilegiar o que nos aproxima" e "Ressaca", sempre com finais inesperados e inquietantes), bem como um desconcertante e actualíssimo poema de Nuno Júdice ("A Pressão dos Mercados");
. Sónia Pereira recordou um pertinente texto de Maria Filomena Mónica designado "A minha Europa", enfocando no tema da pobreza;
. Inês Lopes, por seu lado, leu um poema seu intitulado "Cidadã daqui e dali".


PRÓXIMA TERTÚLIA: 28 de Novembro. 21h30. Quiosque Al'Mutamid (a penúltima sessão de 2013)





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