quarta-feira, 12 de junho de 2013

Voluntários no coração da serra algarvia!

A freguesia de S. Marcos da Serra ainda não tinha sido contemplada com ações de voluntariado de leitura desde o arranque deste projeto em finais de 2012, não obstante não existir lá ainda um pólo de biblioteca nem um núcleo de voluntários criados. Sabemos bem como se trata de uma zona interior, serrana, com elevados níveis de envelhecimento e analfabetismo, em que a oferta cultural é diminuta e, por isso, um contexto onde importava atuar com alguma premência.

Nesta medida, agendámos duas ações de animação da leitura para 1 de junho e 12 de julho, respetivamente na Associação Humanitária (Centro de Dia) - isto para um público idoso - e no centro histórico (domicílios e cafés) da aldeia, de forma a estimular e envolver a população local e os agentes associativos.

Realizámos a primeira sessão simbolicamente no Dia Mundial da Criança, a 1 de junho (à qual assistiram cerca de 32 pessoas), tendo participado os voluntários de leitura Manuel Caetano, Ana Santório, Ana Paula Baptista, Maria Luísa Cabrita, Rosa Santos e José Paulo Vieira, dos núcleos de Silves e de Alcantarilha, bem como Beatriz Palma, de 11 anos, que leu o conto "O velho, o menino e o burro".

Foram lidos textos de Nuno Júdice, Eduardo Galeano, Alexandre O'Neill, Eugénio de Andrade, Juan Ramón Jiménez, entre outros, bem como interpretados alguns trechos musicais em interação com o público.

Queríamos deixar um agradecimento muito especial à direção e às técnicas do Centro de Dia de S. Marcos, bem como à nossa voluntária de leitura Rosa Santos, ali residente, por todo o apoio, entusiasmo e envolvimento revelados nesta ação.

Ainda houve tempo para uma conversa amena com os amigos Manuel Vicente e Manuel José Martins Rodrigues, ambos de 77 anos e naturais de S. Marcos da Serra, bem como para ouvir os poemas feitos por Isabel Maria de Castro, de 84 anos, também originária daquela freguesia, a qual nos deliciou com os seus versos feitos de amor à terra-natal, sátira social e deslumbramento pela natureza. Aqui ficam alguns que registámos em audio através do gravador de voz do telemóvel:

"S. Marcos"

S. Marcos vai estando bonito
que todos vêem que é assim,
até o bairro dos Montinhos
já ganhou um jardim.

É pena ser tão pequeno,
é por isto reparado,
mas feito com antiguidade
porque tem até um arado.

Tem três entradas principais,
examinem que é assim,
cada entrada tem uma porta
enfeitada com um jardim

Feito pelo nosso presidente
que tem bonita opinião,
uma vez que de lá saia
deixa esta recordação.

Nos tempos que já lá vão,
isto deve ser reparado:
que os outros presidentes não deixaram
nada feito pra agora ser lembrado.

Mas a verdade é só uma,
ninguém diga que não,
que o senhor António Lourenço
ainda deixou uma recordação.

O tempo foi-se passando,
amanhecendo de dia-a-dia,
a praça foi transformada
para a Junta de Freguesia.

Vai-se andando e escutando
que a música é mesmo assim,
por muito boa que ela seja
há quem diga que é ruim.

Não sei se me compreendem
aquilo que eu quero dizer,
que assim são os presidentes
façam eles o que fazer.

Já me estava a esquecer,
e agora peço perdão,
que o senhor José Miguel 
também deixou uma recordação.

Mandou fazer um edifício
com amor e simpatia,
e para ser bem justificado
deixou lá a fotografia.

Os outros presidentes que não falei
não devem levar a mal,
que não deixaram nada feito
para a gente agora se lembrar.

Mas S. Marcos ainda tem
pessoas de simpatia,
que alguns andaram pedindo
para começar o Centro de Dia.

Com algumas preocupações
já está a funcionar,
para uns lá receberem
os outros têm que pagar.

E isto que eu estou a dizer

não me podem desmentir,
porque à minha porta
eles também foram pedir.

No dia da inauguração
foi um dia de alegria,
que havia tanta comida
que ainda ficou para o outro dia.

E no fim da refeição
os encarregados foram falar
e falaram todos tão bem
que eu não sei qual hei-de gabar.

Mas se pensares em passar férias
fora da tua terra,
vai passá-las ao Algarve,
mas em S. Marcos da Serra.

É uma pequenina aldeia
mas [de] gente com amor e carinho,
para veres uma antiga nora
rodada por um machinho.

Os versos que eu estou a escrever
podem dizer que não estão bem,
mas lêem-se em todo o lado,
não dizem mal de ninguém.


"As quatro estações do ano"

O ano tem quatro estações
mas isso não é moderno,
a Primavera e o Verão,
o Outono e o Inverno.

Quando chegar a Primavera,
atrás vem o calor
para os campos florirem,
que é o jardim de Deus Nosso Senhor.

Deus é o pai de todos,
criados com os mesmos carinhos,
porque é que uns são tão ricos
e outros são tão pobrezinhos?

Mas há pobres de simpatia
e ricos mal-educados,
resumindo a coisa bem,
que os versos não vão errados.

Quando se acabar o Verão
ficamos logo no Outono,
resumindo a coisa bem,
que é a terceira estação do ano.

A última é o Inverno,
que é o mais mau de passar,
quem é pobrezinho não tem roupa
para se agasalhar.







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